arroto

a poesia acontece aqui fora
perto das latas
e das sacolas plásticas
entre o riso de marina
e um besouro no jardim

nunca um poema reinvindica biblioteca
que é pro poema como que o jazigo
onde os pranteadores vêm nutrir a fleuma
sem jamais tocar
sua matéria indócil

também não vem de um dentro
que a estrutura do poeta é mera humana víscera:
o poema não habita o abscôndito
antes flana entre os quintais
onde um grilo canta sem ser visto
ou nos bares onde um capiau cochila


nas roupas batidas na pedra
no amor nascido e já enfermo
de uma repentina adolescente

o poema espreita os tolos
e se lhes alfineta a barra
das calças, e sobe pelas pernas
dedilhando as vértebras
ensaiando já a música
que lhe dará corpo


mas às vezes se apreguiça

e vira arroto.

Um comentário:

Fernanda Paz disse...

hahahaha. Muito boa, Estevão! Se tem uma coisa que nunca duvidei foi do teu talento! Abração!

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