ronaldo olhou seu relógio argênteo de ponteiros muy exatos e constantes e pensou nos seus quarenta honrados anos e na sua aposentadoria. escreveu mais um poema, rogéria na cabeça, as pernas grossas e sadias o cabelo liquidinoso, acetinado. aos poemas que escrevia, anexava umas paisagens noturnas, salvador, araras azuiz, coqueiros, peixes ornamentais, o carnaval de olinda, o da holanda, o de miami. glorinha olhava seu terno sempre muito reto e gris, e gaguejava o horário do trem ao telefone. os olhos de glorinha não cansavam de piscar. as lâmpadas frias piscavam, por sua vez, tecendo um contraponto eletroacustico pra momo nenhum chiar. bom dia glorinha, o café tá no ponto. glorinha cotucava a gola do uniforme como cotucasse uma ferida: dia, seu naldo. as prática leva às prefeição. gradeço. rogéria estava de grená; sanguínea, sanguinária. aos quinze namorava homens de cinquenta. hoje, aos quarenta e um, procura nos bares os rapazes imberbes e pálidos. ronaldo gagueja um bom dia. as xícaras tilintam, um porta clipes produz contra o carpete um som opaco. o açúcar se confunde ao cinza mesclado. uma andorinha enfia sua cabeça no vidro espelhado e cai sobre o saguão central. o veio de sangue desce a janela, seguido pelo cortejo das pupilas no escritório. o silêncio sobrepuja o açúcar e quando o som revive é a final do campeonato e o sarney quem entra em campo. por uma parca fração de pálpebras o sentido se produz e todos concidadanizam mutuamente. um instante veloz, na proporção de um espirro. saúde, grita gertrudes, do canto esquerdo do polígono estéril da repartição. e todos articulam os músculos do rosto imitando um velho gesto que os primitivos costumavam chamar sorriso.
são carlos, junho de 2012.
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