o sumiço do chapéu
a conquista da inércia pelo homem aconteceu depois do tempo. lembro-me perfeitamente: era quase sábado, todos os bares calados. um vulto embriagado cruzou a avenida e avançou com convicção, ainda que houvesse a dúvida do passo seguinte. as buzinas o fazia dançar como um macaco num tortuoso rito. ao chegar do outro lado o homem viu que havia esquecido seu chapéu. deu de ombros e viveu sua vida sem voltar por sobre os passos, aposentou-se no setor imobiliário e morreu de alguma causa (como houvesse causa para o equívoco) natural. o chapéu, no entanto, permaneceu. a fuligem deu lustro ao chapéu, a chuva lhe trouxe musgo. a cidade cresceu em volta do chapéu, pessoas passavam e diziam: pobre chapéu, tão engraçado. até que debaixo do chapéu fermentou-se o que relevou ser um vulto de macaco. e ele cresceu do concreto onde o chapéu jazia, tão lentamente que ninguém percebeu. no momento de estar completamente pronto, do tamanho de um homem real, retomou seu trôpego périplo do ponto em que fora interrompido.
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